Fazer um code review eficaz envolve uma combinação de análise técnica, atenção a boas práticas e comunicação construtiva. Abaixo estão os principais pontos a considerar, incluindo a relevância de conceitos como SOLID, OOP e complexidade de código:
1. O que Verificar no Code Review?
Funcionalidade e Requisitos
- Alinhamento com os requisitos: O código resolve o problema proposto?
- Tratamento de casos extremos (edge cases): Ex.: divisão por zero, entradas inválidas, falhas de rede.
- Impacto em outras partes do sistema: O código quebra funcionalidades existentes?
Qualidade do Código
- Princípios SOLID (extremamente relevantes):
- Single Responsibility: Uma classe/função faz apenas uma coisa?
- Open/Closed: O código está aberto para extensão, mas fechado para modificação?
- Liskov Substitution: As subclasses podem substituir suas classes base sem quebrar o sistema?
- Interface Segregation: Interfaces são específicas para o cliente que as usa?
- Dependency Inversion: Módulos dependem de abstrações, não de implementações?
- Orientação a Objetos (OOP):
- Encapsulamento: Dados e comportamentos estão protegidos?
- Herança vs. Composição: A hierarquia de classes é justificada ou há complexidade desnecessária?
- Polimorfismo: Há uso adequado de interfaces ou classes abstratas?
- Programação Funcional (FP)
- Imutabilidade: O código evita mutações desnecessárias de estado?
- Funções puras: Funções sempre retornam o mesmo resultado para a mesma entrada?
- Composição de funções: O código utiliza composição ao invés de sequências complexas de instruções?
- Evita efeitos colaterais: Há dependências globais ou mutações inesperadas?
- Uso adequado de Higher-Order Functions: O código se beneficia de funções como
map
,reduce
efilter
para evitar loops imperativos?
- Complexidade:
- Complexidade Ciclomática: Funções/métodos têm muitas ramificações (if/else, loops)? Valores altos indicam código difícil de testar e manter.
- Código duplicado: Há violação do DRY (Don’t Repeat Yourself)?
- Legibilidade: O código é fácil de entender? Nomes de variáveis/métodos são claros?
Testabilidade
- Separação de responsabilidades: O código permite testes unitários?
- Presença de testes: Foram adicionados/atualizados testes para a nova funcionalidade?
- Mocks e dependências: As dependências externas (ex.: bancos de dados) estão isoladas para testes?
Segurança
- Injeção de SQL/XSS: Há sanitização de entradas?
- Manuseio de dados sensíveis: Tokens, senhas ou PII estão expostos?
- Controle de permissões: Verificação de autorização em operações críticas.
Performance
- Loops/operações custosas: Ex.: consultas em loop, algoritmos O(n²).*
- Uso de memória: Alocações desnecessárias ou vazamentos?
- *Complexidade de Tempo (Time Complexity): O algoritmo escolhido é eficiente para grandes volumes de dados? O código segue boas práticas para reduzir a complexidade de tempo, evitando soluções ineficientes como
O(n²)
ouO(2ⁿ)
quando uma alternativaO(n log n)
ouO(n)
poderia ser usada? Avaliar se a estrutura de dados e os algoritmos empregados são os mais adequados para o problema pode evitar gargalos de desempenho.
Documentação
- Comentários úteis: Explicam o “porquê” (não o “como”) de decisões complexas.
- Atualização de documentação: READMEs, Swagger, ou comentários de API foram ajustados?
2. Processo do Code Review
Antes de Iniciar
- Contexto: Entenda o objetivo da mudança (issue/ticket relacionado).
- Escopo: Mantenha as revisões pequenas (até 200-400 linhas) para evitar fadiga.
Durante a Revisão
- Foco incremental: Analise em etapas (ex.: arquitetura, lógica, testes).
- Ferramentas:
- Linters (ex.: ESLint, Pylint) para padrões de código.
- Análise estática (ex.: SonarQube) para métricas de complexidade.
- CI/CD: Verifique se os testes e builds passaram.
Comunicação
- Seja construtivo: Evite críticas pessoais. Ex.: “Como podemos simplificar esta condicional?” em vez de “Isso está confuso”.
- Faça perguntas: Ex.: “Qual o motivo de usar um singleton aqui?”.
- Priorize: Destaque bloqueadores (ex.: bugs) vs. sugestões opcionais (ex.: refatorar nomes).
3. Conceitos Relevantes
- SOLID: Garante que o código seja flexível, mantenha baixo acoplamento e alta coesão. Violações frequentes incluem classes “Deus” (Single Responsibility) e injeção direta de dependências (Dependency Inversion).
- OOP: Assegura que o código seja modular e extensível. Código procedural em lugares onde OOP traria benefícios é um sinal de alerta.
- Complexidade: Código complexo aumenta o risco de bugs e dificulta a manutenção. Use métricas como complexidade ciclomática para identificar pontos críticos.
- Programação Funcional: Promove a imutabilidade, funções puras e a composição de funções para criar código mais previsível e fácil de testar. Evitar efeitos colaterais e priorizar a transformação de dados são práticas comuns. Linguagens como Haskell e Elm são exemplos que seguem esse paradigma.
Como Fazer Code Review para Programação Orientada a Objetos
Se o código segue um paradigma orientado a objetos, verifique se:
- Encapsulamento: Os dados estão protegidos e a implementação interna das classes está oculta?
- Uso adequado de herança e composição: A herança é justificada e não utilizada em excesso? A composição foi considerada como alternativa?
- Aderência aos princípios SOLID: O código segue os princípios de design SOLID para garantir modularidade e flexibilidade?
- Polimorfismo: Interfaces e classes abstratas são utilizadas de forma eficiente para evitar código duplicado e permitir extensibilidade?
- Baixo acoplamento e alta coesão: As classes têm responsabilidades bem definidas e não dependem excessivamente umas das outras?
Como Fazer Code Review para Programação Funcional
Se o código segue um paradigma funcional, é essencial verificar se:
- Imutabilidade: O código evita mutações de variáveis? Em JavaScript, por exemplo,
const
deve ser priorizado sobrelet
. - Uso de funções puras: As funções sempre produzem a mesma saída para a mesma entrada sem efeitos colaterais?
- Composição de funções: Pequenas funções reutilizáveis são combinadas para criar lógica mais complexa?
- Uso de Higher-Order Functions: Funções como
map
,reduce
efilter
são utilizadas ao invés de loops imperativos? - Efeitos colaterais controlados: Se há efeitos colaterais (ex.: chamadas a APIs, logs), eles estão bem isolados?
4. Melhores Práticas
- Revise por etapas: Arquitetura → Lógica → Estilo.
- Não seja dogmático: SOLID/OOP/FP são guias, não regras absolutas. Avalie trade-offs.
- Use checklists: Padronize critérios (ex.: Google’s Code Review Guidelines).
- Revise testes com a mesma seriedade: Testes mal escritos são tão perigosos quanto código ruim.
- Promova a aprendizagem: Compartilhe links ou exemplos de soluções melhores.
Exemplo de Perguntas para o Revisor
- “Como podemos reduzir a complexidade desta função?”
- “Essa classe segue o princípio de responsabilidade única?”
- “Há cenários não testados nesta condicional?”
5. A importância do Code Review
O Code Review é uma prática essencial em times de desenvolvimento ágil, pois garante a qualidade do código, melhora a colaboração entre os desenvolvedores e reduz o risco de erros em produção. Aqui estão alguns pontos-chave sobre sua importância:
1. Melhoria na Qualidade do Código
O Code Review permite que desenvolvedores mais experientes ou mesmo colegas revisem o código em busca de bugs, más práticas, complexidade desnecessária e violações de padrões. Isso contribui para um código mais limpo, legível e eficiente.
2. Disseminação de Conhecimento
No desenvolvimento ágil, o conhecimento do sistema deve ser compartilhado entre os membros do time. Durante uma revisão, o revisor aprende sobre novas partes do código e o autor recebe feedback sobre como melhorar. Isso evita a dependência de um único desenvolvedor para determinadas funcionalidades.
3. Redução de Bugs e Problemas em Produção
A revisão do código ajuda a detectar erros antes que o código chegue à produção, reduzindo o custo de correção e aumentando a confiabilidade do sistema.
4. Adoção de Boas Práticas e Padrões
Times ágeis costumam seguir guidelines e padrões de código. O Code Review ajuda a garantir que essas diretrizes sejam seguidas, promovendo consistência no código e facilitando sua manutenção.
5. Feedback Contínuo e Melhoria da Equipe
O Code Review não é apenas uma validação, mas também um processo de aprendizado. Com feedbacks regulares, os desenvolvedores aprimoram suas habilidades e evoluem profissionalmente.
6. Facilitação da Integração Contínua (CI/CD)
Em metodologias ágeis, o código é frequentemente integrado ao repositório principal. Revisões garantem que esse código está bem estruturado, minimizando problemas durante a integração e o deploy.
7. Incentivo à Colaboração e Cultura de Equipe
Code Reviews promovem um ambiente colaborativo, onde todos se sentem responsáveis pela qualidade do software. Isso melhora a comunicação e fortalece o espírito de equipe.
6. Empatia
Empatia é fundamental no code review e impacta diretamente na qualidade da comunicação, no crescimento do time e na cultura da equipe.
Por que empatia é importante no code review?
1. Cria um ambiente de aprendizado → Em vez de apenas apontar erros, um revisor empático ajuda os colegas a entenderem como melhorar o código.
2. Evita frustrações → Comentários ríspidos podem desmotivar quem recebe o review. Um feedback bem formulado torna a experiência produtiva.
3. Fomenta a colaboração → Um time que se sente confortável compartilhando código melhora a qualidade do projeto.
4. Ajuda a manter um tom positivo → Comentários devem ser construtivos, sugerindo melhorias em vez de apenas criticar.
Como aplicar empatia no code review?
Dê sugestões em vez de ordens → “Podemos melhorar esse trecho removendo a duplicação?” é melhor que “Isso está errado.”
Reconheça o esforço da outra pessoa → Um simples “Boa solução! Acho que podemos refatorar esse trecho para melhorar a legibilidade.” já muda a abordagem.
Explique o motivo das sugestões → Em vez de apenas dizer que algo está errado, explique o impacto da mudança.
Evite linguagem agressiva ou passivo-agressiva → Evite frases como “Isso está horrível” ou “Você sempre esquece disso”. Prefira um tom neutro e colaborativo.
Referências:
Obrigada pela leitura <3
Curiosidade
Existe o “paradigma de desenvolvimento Extreme Go Horse (XGH) que dentre seus principios há o “Se funciona está pronto”, nesse estilo de desenvolvimento não existe code review 😅